Artigo da bióloga Patrícia Blauth

Devo lavar? Sim.

Esses dias apareceu uma matéria sobre lavar ou não resíduos para reciclagem - http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/sustentavel-na-pratica/embalagens-lavarou-nao-lavar/ - sobre a qual recebi diversas consultas. Juntando o que respondi às pessoas, eis minha posição: A matéria, ainda que bem intencionada, presta certo desserviço para todos nós que há anos (para não dizer décadas) buscamos desconstruir a cultura do “lixo” e construir a cultura do uso responsável e amoroso dos recursos do planeta (inclusive da água, claro!). Diferentemente do que o texto sugere, a reciclagem não é um passe de mágica, mera questão de engenharia, uma máquina derretedora de materiais. A indústria recicladora é apenas o “fim” da linha dos resíduos, resíduos estes que até então rodaram muuuuito... Primeiro, permaneceram um tempo nas nossas casas, condomínios, escolas, escritórios, postos de entrega públicos, etc., que precisam ser mantidos limpos. Onde eu moro, por exemplo, a retirada dos recicláveis é feita a cada 3 semanas. (O que é ótimo, pois as pessoas são obrigadas a perceber e a conviver melhor com seus resíduos, repensando um pouco suas práticas de consumo e descarte.) Depois disso vem gente como a gente coletar (= erguer, segurar, colocar, ajeitar) estes resíduos em algum veículo... que também precisa ser mantido limpo. Daí os resíduos são descarregados nas cooperativas. Nas mais estruturadas - pouquíssimas!!! - mesmo que os resíduos saiam "logo", antes disso eles encostam nas mesas de triagem, nas esteiras, nos bags, prensa, chão, enfim, sujam o local, exigindo também gasto de água na limpeza e manutenção dos galpões. Conforme o relato de um cooperado, “nossos resíduos são comercializados semanalmente e isso acaba inibindo um pouco a presença de vetores; se a embalagem tiver num nível muito grande de sujeira, evite encaminhar pra cooperativa”. Neste sentido, recomendo que todos sigam o caminhão, carroça, perua, o que for e visitem o destino quase final de seus resíduos. Para ver que a história, humanamente falando, não é tão simples. Há várias dicas para poupar água na tarefa de limpar minimamente as embalagens: aproveitá-la da lavagem de louça e de roupas, passar guardanapo usado (para quem ainda compra guardanapo! eu, não) e ainda compostá-lo... E convém lembrar, antes de tudo, que podemos economizar muita água (quase 95%) “raspando” o prato, comendo as sobras das embalagens de alimentos e usando qualquer produto sabiamente, evitando desperdício. Uma folha de papel mal usada equivale a um copo d’água “jogado fora”. (Afinal, a indústria papeleira é das que mais usam água.) Quanto àqueles que ainda questionam o esforço de limpar as embalagens, presumo que seja apenas falta de prática. Exercitem. Em pouco tempo verão que é até mais fácil do que escovar os dentes. Por último, precisamos deixar de usar a expressão lata de lixo, como aparece na matéria. Já era. O autor não afirma que estamos no século 21? Pois agora temos “recipientes para descarte de matéria-prima a ser recuperada”.

Patricia Blauth bióloga, educadora, diretora da Menos Lixo – projetos e educação em resíduos sólidos maio de 2014

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